sábado, 1 de novembro de 2014

Tema 4 - ENEM

Com base nos textos abaixo, desenvolva uma dissertação sobre a importância da pesquisa científica nas universidades de nosso país, discutindo os benefícios trazidos por ela e os problemas que enfrenta. Não se esqueça de propor soluções para os problemas apresentados.

Texto I

O acelerado crescimento do conhecimento nos últimos anos tornou impraticável o ensino tradicional baseado exclusivamente na transmissão oral de informação. Em muitas disciplinas já não é possível, dentro das cargas horárias, transmitir todo o conteúdo relevante. Mais importante ainda, o conhecimento não é acabado, e muito do que o estudante precisará saber em sua vida profissional ainda está por ser descoberto.
O desafio da universidade hoje é formar indivíduos capazes de buscar conhecimentos e de saber utilizá-los. Ao contrário de outrora, quando o importante era dominar o conhecimento, hojepenso que o importante é "dominar o desconhecimento", ou seja, estando diante de um problema para o qual ele não tem a resposta pronta, o profissional deve saber buscar o conhecimento pertinente e, quando não disponível, saber encontrar, ele próprio, as respostas por meio de pesquisa.
Não será fazendo de nossos alunos meros depositários de informações que estaremos formando os cidadãos e profissionais de que a sociedade necessita. Para isto, as atividades, curriculares ou não, voltadas para a solução de problemas e para o conhecimento da nossa realidade, tornam-se importantes instrumentos para a formação dos nossos estudantes.
É dentro desta perspectiva que a inserção precoce do aluno de graduação em projetos de pesquisa se torna um instrumento valioso para aprimorar qualidades desejadas em um profissional de nível superior, bem como para estimular e iniciar a formação daqueles mais vocacionados para a pesquisa.
Para desenvolver um projeto de pesquisa é necessário buscar o conhecimento existente na área, formular o problema e o modo de enfrentá-lo, coletar e analisar dados, e tirar conclusões. Aprende-se a lidar com o desconhecido e a encontrar novos conhecimentos.
Os mecanismos institucionais para esta inserção são os estágios curriculares e a iniciação científica. Precisamos ampliar a iniciação científica como uma atividade curricular, valendo crédito e devidamente avaliada, para possibilitar uma melhor formação dos nossos estudantes. - https://www.ufmg.br/boletim/bol1208/pag2.html

Texto II

Conta-se que o famoso matemático inglês Michael Atiyah resolveu explicar para a sua mãe a natureza de suas atividades. Depois de ter ouvido atentamente as explicações
do filho, a boa senhora teria dito: “Acho que agora entendi o que você faz; mas diga-me uma coisa, por que pagam você para isso?”.
A pergunta que, segundo a anedota, a senhora Atiyah teria feito a seu filho também é feita com freqüência por políticos, por administradores e pela sociedade em geral. A pertinência de se investirem recursos públicos na pesquisa científica e tecnológica em qualquer país, mas particularmente em países em
desenvolvimento como o nosso, com notáveis carências sociais, deve ser constantemente redemonstrada com argumentos novos e eloquentes. Nestes tempos em que a simples aritmética de publicações e citações começa a perder o fôlego, é necessário recuperar os argumentos humanistas – que sustentam a nobreza da busca constante pelo conhecimento – e os pragmáticos – que mostram que a pesquisa é a base da inovação, essencial ao desenvolvimento econômico e à geração de riqueza. - http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/jornalPDF/ju170tema_p01.pdf

sábado, 25 de outubro de 2014

Tema 3 - ENEM

Texto I

Cerca de 550 mil pessoas estão presas no Brasil, mas o sistema prisional brasileiro foi projetado para abrigar um pouco mais de 300 mil detentos. O resultado deste déficit é a superlotação, que vem acompanhada de maus-tratos, doenças, motins, rebeliões e mortes. De acordo com dados do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias do Ministéria da Justiça, o país tem hoje a quarta maior população carcerária do mundo e está atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Rússia. Nos últimos vinte anos, o número de presos cresceu 251%. - www2.camara.leg.br, 09/04/13

Texto II

As cenas de horror no Maranhão conseguiram, mais do que expor a barbárie no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, trazer à luz as mazelas de um sistema sufocado por sua própria política de encarceramento em massa. Dono da quarta maior população carcerária do mundo, o Brasil prende, em termos relativos, 7,3 vezes mais que a média mundial. Enquanto o total de presos cresceu cerca de 30% nos últimos 15 anos em todo o mundo, segundo estudo do Centro Internacional de Estudos Penitenciários (ICPS, na sigla em inglês) da Universidade de Essex (Reino Unido), no Brasil a taxa foi de 221,2% – passando de um total de 170,6 mil presos em 1997 para 548 mil em 2012, de acordo com o Ministério da Justiça.
Com 513.713 presos no sistema prisional e 34.290 em instalações policiais, o Brasil tem hoje 1.478 instituições prisionais com capacidade para comportar 318.739 presos. O déficit de cerca de 230 mil vagas demonstra o sufocamento de um sistema que opera muito acima do que sua estrutura comporta. Segundo números compilados pelo ICPS, o Brasil atingiu um nível de ocupação de 171,9% de suas prisões.
Dos quatro países com maior população carcerária do mundo (os outros são Estados Unidos, China e Rússia), o Brasil é o único cujo sistema carcerário está muito acima da sua capacidade. O País aparece em sétimo na lista de sistemas prisionais com supertaxa de ocupação, perdendo apenas para Haiti, Filipinas, Venezuela, Quênia, Irã e Paquistão. Apesar de representarem as três maiores populações carcerárias do mundo, EUA, China e Rússia operam dentro de sua capacidade prisional.
Para Vinícius Lapetina, advogado criminalista e coordenador do Projeto Educação para Cidadania no Cárcere do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, três pontos principais contribuem para o quadro degradante no Brasil. O primeiro é a política de encarceramento adotada como solução das mazelas sociais. “Hoje tudo é crime e a prisão é o maior - e mais falso - símbolo de que a ‘Justiça’ está sendo feita”, observa Lapetina, ao ressaltar que o cárcere como caráter punitivo e correcional deveria ser uma medida de exceção, quando é regra. Um segundo ponto diz respeito à falta de investimentos do Estado na melhoria e construção de estabelecimentos prisionais. De modo geral, ressalta o advogado, os estados brasileiros assistiram ao crescimento da população carcerária e não ofereceram vagas aos novos ingressos do sistema nos últimos anos.
Soma-se a isso problemas no campo do Poder Judiciário, mais especificamente no processo de execução penal, que falha no cumprimento da pena. Resultado: os presos acabam não sendo soltos quando deveriam e contribuem para a superlotação dos presídios. “Falta planejamento administrativo. Se o Brasil adotou políticas de encarceramento em massa, ao menos deveria ter se preparado para as consequências”, avalia Lapetina. - "em 15 anos, Brasil prendeu 7 vezes mais que  média", cartacapital.com.br, 16/01/2014

Com base nos textos lidos, elabore uma dissertação que discuta a situação do sistema prisional em nosso país, elencando propostas que funcionem como alternativas viáveis para a solução do problema, respeitando, sempre, os direitos humanos.


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Tema 2 - ENEM


Leia os textos abaixo, eles servirão como base para sua proposta de redação:

Texto I

“Pelo Direito de Manifestação, Pelo Direito de Ir e Vir
À população do Brasil
Nos tempos recentes, há um claro conflito entre o legítimo direito de expressão de opiniões, reivindicações, de manifestar apoio ou repúdio ao que quer que seja e o não menos importante direito de ir e vir.
Raro o dia em que não se veem nos meios de comunicação notícias sobre as vidas de milhões de pessoas transtornadas por conta de manifestações públicas que adotam como tática o bloqueio de grandes vias de transporte.
Reunindo vários milhares ou apenas um punhado de pessoas, grupos organizados em defesa de reivindicações as mais diversas arvoram-se no direito de interromper ruas, avenidas e estradas, de destruir meios de transporte e equipamentos públicos a eles relacionados. Violam, assim, o direito de um número sempre muito maior, milhões nos grandes centros urbanos, de se deslocarem a seus lares, a seus trabalhos, ao encontro de suas famílias, amigos, ou compromissos, quaisquer que sejam.
Mentes autoritárias, com profundo desprezo pelo direito alheio, terão sempre justificativas para essas ações na suposta justiça das causas que defendem ou na relevância das denúncias que propagam. As causas podem até ser justas, mas a alteração no tempo e na ordem da vida das pessoas não pode se tornar algo banal, corriqueiro. Um efeito dessa avalanche de manifestações que não titubeiam em afetar profundamente a vida das pessoas nas cidades é o descrédito e o desgaste de qualquer manifestação. Isso não é democracia, mas prepara sua destruição.
É hora de um BASTA! Exigimos do poder público que preserve o direito de ir e vir a todos aos cidadãos, não apenas aos grupos manifestantes. É deprimente e alarmante ter as forças da ordem pública assistindo passivamente ou mesmo contribuindo com o transtorno pelo bloqueio de grandes vias, preferencialmente nos horários de rush. É revoltante vermos multidões tentando chegar em suas casas ou a seus compromissos, imobilizados por horas, manietados, vítimas da passividade do poder público, acuados pela impunidade e eventual violência de manifestantes." - Excerto de manifesto publicado em 29/05/2014 por professores de diversas universidades federais e estaduais, tais como a USP, a UFRJ e a UFPR.


Read more: http://oglobo.globo.com/brasil/leia-integra-do-manifesto-que-defende-direito-de-ir-vir-da-populacao-12646694#ixzz3BbknI1


Texto II

A presidenta Dilma Rousseff anunciou hoje (2) o repasse de R$ 1 bilhão para investimentos em mobilidade urbana em Rio Branco, no Acre, Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, e quatro municípios do ABC Paulista. O anúncio foi feito em evento fechado à imprensa no Palácio do Planalto, e contou com a presença dos prefeitos das cidades selecionadas e do ministro das Cidades, Gilberto Occhi.
Os recursos fazem parte dos R$ 50 bilhões para mobilidade urbana anunciados após as manifestações de junho de 2013, que cobraram, entre outras coisas, melhoria no transporte público. Os investimentos vão financiar projetos selecionados pelo Pacto da Mobilidade Urbana para as cidades. - http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-07/governo-federal-repassa-r1-bi-para-obras-de-mobilidade-urbana-em-seis-cidades - 02/07/2014


Texto III



Com base nos texto lidos e no seu conhecimento de mundo, redija uma dissertação discutindo a questão da mobilidade urbana no Brasil. Obrigatoriamente, elenque problemas e avanços relacionados ao tema em questão. Não se esqueça de apresentar soluções para os problemas discutidos em seu texto, sem ferir os direitos humanos.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Lista ETAPA - Realismo, Naturalismo, Parnasianismo

1. (Uemg 2014)  O excerto a seguir faz referência às tendências literárias que predominaram na segunda metade do século XIX.

“O liame que se estabelecia entre o autor romântico e o mundo estava afetado de uma série de mitos idealizantes: a natureza-mãe, a natureza-refúgio, o amor-fatalidade, a mulher-diva, o herói-prometeu, sem falar na aura que cingia alguns ídolos como a 'Nação', a 'Pátria', a 'Tradição', etc. O romântico não teme as demasias do sentimento nem os riscos da ênfase patriótica; nem falseia de propósito a realidade, como anacronicamente se poderia hoje inferir: é a sua forma mental que está saturada de projeções e identificações violentas, resultando-lhe natural a mitificação dos temas que escolhe. Ora, é esse complexo ideo-afetivo que vai cedendo a um processo de crítica na literatura dita 'realista'. Há um esforço, por parte do escritor antirromântico, de acercar-se impessoalmente dos objetos, das pessoas. E uma sede de objetividade que responde aos métodos científicos cada vez mais exatos nas últimas décadas do século.”

(BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994, p. 167.
Adaptado.)

Em A mão e a luva, estão presentes os seguintes elementos:
a) demasias do sentimento, descrição imparcial de objetos e personagens, convenções sociais.    
b) mulher-diva, foco narrativo em 1ª pessoa, descrição idealizada do Rio de Janeiro.    
c) falseamento proposital da realidade, mitificação do amor e da natureza, patriotismo.    
d) sede de objetividade, identificações violentas, foco narrativo em 3ª pessoa.   
  
2. (Acafe 2014)  Considerando o contexto histórico descrito no texto a seguir, assinale a alternativa correta quanto à produção literária no Brasil.

“Na Europa, a segunda Revolução Industrial promovera modificações profundas. Inovações tecnológicas desenvolveram a produção em massa de bens diversos.  As cidades cresceram muito (em detrimento do campo), e formou-se um proletariado que logo começou a organizar-se politicamente. E, dentro desse contexto, as artes mudaram: a belle époque assiste a uma sucessão de movimentos artísticos revolucionários.”
(LAFETÁ, 1982, p. 99)
a) Na literatura rompeu-se com a tradição clássica, imposta pelo período árcade, e apresentaram- se novas concepções literárias, dentre as quais podem ser apontadas: a observação das condições do estado de alma, das emoções, da liberdade, desabafos sentimentais, valorização do índio, a manifestação do poder de Deus através da natureza acolhedora ao homem, a temática voltada para o amor, para a saudade, o subjetivismo.   
b) Os escritores brasileiros abordaram a realidade social do país, destacando a vida nos cortiços, o preconceito, a diferenciação social, entre outros temas. O homem é encarado como produto biológico passando a agir de acordo com seus instintos, chegando a ser comparado com os animais (zoomorfização).   
c) O romance focou o regionalismo, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a migração, os problemas do trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram ressaltados. Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas; surgiu o romance urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a narrativa surrealista.   
d) As características comuns às obras literárias brasileiras desse período são: a ruptura com a linguagem pomposa parnasiana; a exposição da realidade social brasileira; o regionalismo; a marginalidade exposta nas personagens e associação aos fatos políticos, econômicos e sociais.   
  
3. (Espcex (Aman) 2014)  Quanto à poesia parnasiana, é correto afirmar que se caracteriza por  
a) buscar uma linguagem capaz de sugerir a realidade, fazendo, para tanto, uso de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, além de recursos sonoros e cromáticos, tudo com a finalidade de exprimir o mundo interior, intuitivo, antilógico e antirracional.    
b) cultivar o desprezo pela vida urbana, ressaltando o gosto pela paisagem campestre; elevar o Ideal de uma vida simples, integrada à natureza; conter nos poemas elementos da cultura greco-latina; apresentar equilíbrio espiritual, racionalismo.    
c) apresentar interesse por temas religiosos, refletindo o conflito espiritual, a morbidez como forma de acentuar o sentido trágico da vida, além do emprego constante de figuras de linguagem e de termos requintados.    
d) possuir subjetivismo, egocentrismo e sentimentalismo, ampliando a experiência da sondagem Interior e preparando o terreno para investigação psicológica.    
e) pretender ser universal, utilizando-se de uma linguagem objetiva, que busca a contenção dos sentimentos e a perfeição formal.    
  
4. (Espm 2014) 

(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apu­ração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a vo­lúpia, era o fruto dourado e acre destes ser­tões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes.

(Aluísio Azevedo, O Cortiço)

Tendo em vista as características naturalis­tas e cientificistas, sobretudo do Determinis­mo, que predominam no romance O Cortiço, o trecho (assinale o item não pertinente):  
a) explicita a personagem que age de acor­do com os impulsos característicos de sua raça.    
b) põe em evidência o zoomorfismo, em que se destacam os elementos instintivos de prazer, sensualidade e desejo.    
c) faz alusão à competição entre os mais fortes (europeus) e os mais fracos (bra­sileiros).    
d) ressalta o homem sucumbindo aos fatores preponderantes do meio.    
e) condena veladamente o sexo e defende indiretamente os princípios morais.   
  
5. (Acafe 2014)  Correlacione as colunas a seguir, considerando o comentário com a citação respectiva.

COMENTÁRIO

( 1 ) A protagonista de A Hora da Estrela reproduz cotidianamente o papel imposto pelo masculino e concretiza, na sua existência rala, o projeto identitário silenciosamente gestado no útero da cultura.
( 2 ) Simone Beauvoir, em 1949, através da afirmação: “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, traz uma importante reflexão sobre a categorização de ser mulher ou homem em nossa sociedade. Sua intenção, com essa frase era questionar sobre a suposta relação hierárquica entre o sexo biológico e a construção categorial da mulher, ou seja, os comportamentos e atribuições nomeadas como “coisas de mulher” são formuladas pela sociedade. Entre esses comportamentos e atribuições, inclui-se o perfil da mulher casada que deve obedecer a certos padrões de comportamentos.
( 3 ) Ela era uma mulher prendada que possuía os dotes da família conservadora, mas também tinha seu lado emancipatório, questionava e tentava colocar suas ideias; o modelo patriarcal era ainda muito forte e ela não conseguiu mudar.
( 4 ) Imergindo em um mundo de acontecimentos corriqueiros, o narrador revela o olhar da protagonista sobre a realidade circundante. E é assim, através da observação das pequenas coisas e pelo resgate de memória, que a personagem vai percebendo o mundo e ampliando sua consciência sobre o mesmo. É a menina que se encanta com um universo de descobertas, de tonalidades e movimentos, de acontecimentos e sensações, que se constitui em sujeito-mulher no imaginário do leitor.

CITAÇÃO

(     ) “Talvez ele houvesse exigido em demasia, sem levar em conta a maneira de ser de sua mulher, querendo transformá-la de um dia para outro numa senhora de alta roda, da nata ilheense, arrancando-lhe quase à força hábitos arraigados. Sem paciência para educá-la aos poucos. Ela queria ir ao circo, ele a arrastava à conferência enfadonha, soporífera. Não a deixava rir por um tudo e por um nada como era seu costume. Repreendia-a a todo momento, por ninharias, no desejo de torná-la igual às senhoras dos médicos e advogados, dos coronéis e comerciantes. Não fale alto, é feio, cochichava- lhe no cinema. Sente-se direito, não estenda as pernas, feche os joelhos. Com esses sapatos, não. Bote os novos, para que tem? Ponha um vestido decente. Vamos hoje visitar minha tia. Veja como se comporta.”
(     ) “[...] segue num encantamento. Sua sombra se espicha na escada. Como a vida é boa! E como seria mil vezes melhor, se não houvesse esta necessidade (necessidade não: obrigação) de ir para o colégio, de ficar horas e horas curvada sobre a classe, rabiscando números, escrevendo frases e palavras, aprendendo onde fica o Cabo da Boa Esperança, quem foi Tomé de Sousa, em quantas partes se divide o corpo humano, como é que se acha a área de um triângulo...”
(     ) “Só depois é que pensava com satisfação: sou datilógrafa, e virgem, e gosto de coca-cola. Só então vestia-se de si mesma, passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser.”
(     ) “[...] Paixões de largos anos, chegando ao casamento, acabam muitas vezes pela separação ou pelo ódio, quando menos pela indiferença. O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corromper-se. Que resta à maior parte dos casamentos, logo após os anos de paixão? Uma afeição pacífica, a estima, a intimidade. Não peço mais ao casamento, nem lhe posso dar mais do que isso.”

A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) 3 - 1 - 2 - 4    
b) 2 - 4 - 1 - 3    
c) 4 - 2 - 3 - 1   
d) 1 - 3 - 4 - 2   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
Fotojornalismo

12Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta o solo debaixo dos pés… Um exército rival vem solapando os alicerces em que até agora assentava a nossa supremacia: é o exército dos desenhistas, dos caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará a pena: 1ceci tuera cela.
13O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões profundas. A onda humana galopa, numa espumarada bravia, sem descanso. Quem não se apressar com ela será arrebatado, esmagado, exterminado. 8O século não tem tempo a perder. A eletricidade já suprimiu as distâncias: daqui a pouco, quando um europeu espirrar, ouvirá 2incontinenti o “Deus te ajude” de um americano. 17E ainda a ciência humana há de achar o meio de simplificar e apressar a vida por forma tal que os homens já nascerão com dezoito anos, aptos e armados para todas as batalhas da existência.
9Já ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas, que entram pelos olhos da gente com uma insistência assombrosa. As legendas são curtas e incisivas: 18toda a explicação vem da gravura, que conta conflitos e mortes, casos alegres e casos tristes.
É provável que o jornal-modelo do século 20 seja um imenso 3animatógrafo, por cuja tela vasta passem reproduzidos, instantaneamente, todos os incidentes da vida cotidiana. Direis que as ilustrações, sem palavras que as expliquem, não poderão doutrinar as massas nem fazer uma propaganda eficaz desta ou daquela ideia política. Puro engano. Haverá ilustradores para a sátira, ilustradores para a piedade.
(...) Demais, 19nada impede que seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz 4tonitruosa, encarregado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou picante, das fotografias.
E convenhamos que, no dia em que nós, cronistas e noticiaristas, houvermos desaparecido da cena – nem por isso se subverterá a ordem social. 14As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel. A pena nem sempre é ajudada pela inteligência; ao passo que 20a máquina fotográfica funciona sempre sob a 5égide da soberana Verdade, a coberto das inumeráveis ciladas da Mentira, do Equívoco e da Miopia intelectual. 21Vereis que não hão de ser tão frequentes as controvérsias…
(...)
Não insistamos sobre os benefícios da grande revolução que a fotogravura vem fazer no jornalismo. Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo terá a utilidade de evitar que nossas opiniões fiquem, como atualmente ficam, fixadas e conservadas eternamente, para 6gáudio dos inimigos… Qual de vós, irmãos, não escreve todos os dias quatro ou cinco tolices que desejariam ver apagadas ou extintas? Mas, ai! de todos nós! 15Não há morte para as nossas tolices! 16Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas.
(...)
No jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a revolução, que vai ser a nossa morte e a 7opulência dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para morrer, irmãos, sem lamentações ridículas, 10aceitando resignadamente a fatalidade das coisas, e consolando-nos uns aos outros com a cortesia de que, ao menos, 11não mais seremos obrigados a escrever barbaridades…
Saudemos a nova era da imprensa! A revolução tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada a consciência.

Olavo Bilac
Gazeta de Notícias, 13/01/1901.


1 ceci tuera cela − isto vai matar aquilo
2 incontinenti − sem demora
3 animatógrafo − aparelho que passa imagens sequenciais
4 tonitruosa − com o volume alto
5 égide − proteção
6 gáudio − alegria extremada
7 opulência − riqueza, grandeza


6. (Uerj 2014)  Já em 1901, o escritor Olavo Bilac temia que a imagem substituísse a escrita. No entanto, ele reconhecia aspectos positivos dessa possível substituição.
Um desses aspectos é observado no seguinte trecho:
a) O século não tem tempo a perder. (ref 8)   
b) Já ninguém mais lê artigos. (ref.9)   
c) aceitando resignadamente a fatalidade das coisas, (ref. 10)   
d) não mais seremos obrigados a escrever barbaridades... (ref. 11)   
  
7. (Uerj 2014)  O texto, apesar de escrito no início do século XX, demonstra surpreendente atualidade, conferida sobretudo por uma semelhança entre a vida moderna da época e a experiência contemporânea. Essa semelhança está exemplificada na passagem apresentada em:
a) O público tem pressa. (ref. 13)   
b) As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel. (ref. 14)   
c) Não há morte para as nossas tolices! (ref. 15)   
d) Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas. (ref. 16)   
  
8. (Uerj 2014)  Vereis que não hão de ser tão frequentes as controvérsias… (ref. 21)

A previsão de Bilac sobre a diminuição das controvérsias ou polêmicas, por causa da vitória da imagem sobre a palavra, baseia-se em uma pressuposição acerca da maneira de representar a realidade.
Essa pressuposição está enunciada em:
a) o desenho critica o real e as palavras expressam consciência   
b) a fotografia reproduz o real e as palavras provocam distorções   
c) a imagem interpreta o real e as palavras precisam de inteligência   
d) a fotogravura subverte o real e as palavras tendem ao conservadorismo   
  
9. (Fuvest 2013)  No excerto abaixo, narra-se parte do encontro de Brás Cubas com Quincas Borba, quando este, reduzido à miséria, mendigava nas ruas do Rio de Janeiro:

Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, – a menos limpa, – e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele recebeu-ma com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado.
In hoc signo vinces!* bradou.
E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis.
— Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
— Sim? acudiu ele, dando um bote para mim.
— Trabalhando, concluí eu.

* “In hoc signo vinces!”: citação em latim que significa “Com este sinal vencerás” (frase que teria aparecido no céu, junto de uma cruz, ao imperador Constantino, antes de uma batalha).

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

a) Tendo em vista a autobiografia de Brás Cubas e as considerações que, ao longo de suas Memórias póstumas, ele tece a respeito do tema do trabalho, comente o conselho que, no excerto, ele dá a Quincas Borba: “— Trabalhando, concluí eu”.
b) Tendo, agora, como referência, a história de D. Plácida, contada no livro, discuta sucintamente o mencionado conselho de Brás Cubas.  
  
10. (Ufpa 2013)  Em fevereiro de 1897, o poeta Olavo Bilac substitui o já renomado romancista Machado de Assis na função de cronista do periódico fluminense Gazeta de Notícias. A crônica, que no século XIX cumpre a função de registrar as questões mais prementes do dia, fossem políticas, culturais ou literárias, é o gênero ao qual se dedicará o poeta conhecido como um dos mestres do verso parnasiano.
A respeito da crônica “A prostituição infantil”, é correto afirmar que Olavo Bilac
a) assume uma postura neutra com relação à prostituição e exploração do trabalho infantil que grassavam nas ruas do Rio de Janeiro de fins do século XIX.   
b) narra seu encontro noturno com uma criança que vendia flores, demonstra sua indignação com a prostituição e exploração do trabalho infantil, pondo sua verve literária a serviço de uma causa social.   
c) considera que a prostituição e o trabalho infantil não são um problema social no Rio de Janeiro de sua época.   
d) afirma que todos têm “mais o que fazer”, de forma que não interessa a ele e aos leitores o destino das meninas que se prostituem e vendem flores aos passantes.   
e) elogia a polícia por ter dado fim à prostituição e ao trabalho infantil nas ruas do Rio de Janeiro.   
  
11. (Enem 2013)  Mal secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.


Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.   
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.   
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.   
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.   
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.   
  
12. (Fuvest 2013)  Leia o seguinte texto.

O autor pensava estar romanceando o processo brasileiro de guerra e acomodação entre as raças, em conformidade com as teorias racistas da época, mas, na verdade, conduzido pela lógica da ficção, mostrava um processo primitivo de exploração econômica e formação de classes, que se encaminhava de um modo passavelmente bárbaro e desmentia as ilusões do romancista.

Roberto Schwarz. Adaptado.

Esse texto crítico refere-se ao livro
a) Memórias de um sargento de milícias.   
b) Til.   
c) O cortiço.   
d) Vidas secas.   
e) Capitães da areia.   
  
13. (Enem 2013)  Capítulo LIV — A pêndula

Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim:
— Outra de menos…
— Outra de menos…
— Outra de menos…
— Outra de menos…
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).


O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque
a) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros.   
b) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo.   
c) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas.   
d) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas.   
e) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.   
  
14. (Fuvest 2013)  Em quatro das alternativas abaixo, registram-se alguns dos aspectos que, para bem caracterizar o gênero e o estilo das Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico J. G. Merquior pôs em relevo nessa obra de Machado de Assis. A única alternativa que, invertendo, aliás, o juízo do mencionado crítico, aponta uma característica que NÃO se aplica à obra em questão é:
a) ausência praticamente completa de distanciamento enobrecedor na figuração das personagens e de suas ações.   
b) mistura do sério e do cômico, de que resulta uma abordagem humorística das questões mais cruciais.   
c) ampla liberdade do texto em relação aos ditames da verossimilhança.   
d) emprego de uma linguagem que evita chamar a atenção sobre si mesma, apagando-se, assim, por detrás da coisa narrada.   
e) uso frequente de gêneros intercalados — por exemplo, cartas ou bilhetes, historietas etc. — embutidos no conjunto da obra global.   
  
15. (Ufg 2013)  O contexto sócio-histórico do Brasil, no século XIX, evidencia-se no enredo do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, por meio das
a) práticas de trabalho na pedreira de João Romão, que se baseiam na exploração de mão de obra excedente do processo de industrialização no Rio de Janeiro.   
b) condições de moradia do cortiço São Romão, que reproduzem o modo de vida próprio do principal tipo de habitação popular da então Capital Federal.   
c) disputas territoriais, que expressam, no confronto entre os carapicus e os cabeças-de-gato, a violência característica dos primeiros cortiços cariocas.   
d) manifestações folclóricas, que representam, na dança, na música e na culinária dos moradores do cortiço, o exotismo inerente ao povo brasileiro.   
e) correntes migratórias, que configuram o cortiço São Romão como uma comunidade formada por comerciantes portugueses em busca de ascensão social.   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
CAPÍTULO 73 - O Luncheon*

O despropósito fez-me perder outro capítulo. Que melhor não era dizer as coisas lisamente, sem todos estes solavancos! Já comparei o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a ideia vos parece indecorosa, direi que ele é o que eram as minhas refeições com Virgília, na casinha da Gamboa, onde às vezes fazíamos a nossa patuscada, o nosso luncheon. Vinho, frutas, compotas. Comíamos, é verdade, mas era um comer virgulado de palavrinhas doces, de olhares ternos, de criancices, uma infinidade desses apartes do coração, aliás o verdadeiro, o ininterrupto discurso do amor. Às vezes vinha o arrufo temperar o nímio adocicado da situação. Ela deixava-me, refugiava-se num canto do canapé, ou ia para o interior ouvir as denguices de Dona Plácida. Cinco ou dez minutos depois, reatávamos a palestra, como eu reato a narração, para desatá-la outra vez. Note-se que, longe de termos horror ao método, era nosso costume convidá-lo, na pessoa de Dona Plácida, a sentar-se conosco à mesa; mas Dona Plácida não aceitava nunca.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

(*) Luncheon (Ing.): lanche, refeição ligeira, merenda.  


16. (Fgvrj 2013)  No trecho, revelam, respectivamente, um parentesco e um afastamento em relação às Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, o termo
a) “despropósito” e as intenções moralizantes do narrador.   
b) “solavancos” e a sentimentalidade romântica dos amantes.   
c) luncheon” e a intimidade erótica do casal.   
d) “patuscada” e o contexto de classe de pretensões elegantes.   
e) “criancices” e o anticlericalismo latente.   
  
17. (Fgvrj 2013)  Uma palavra, própria da língua escrita, foi empregada figuradamente, no texto, para caracterizar uma ação não verbal. Ela aparece no seguinte trecho:
a) “Já comparei o meu estilo”.   
b) “era um comer virgulado”.   
c) “desses apartes do coração”.   
d) “o ininterrupto discurso do amor”.   
e) “reatávamos a palestra”.   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
— Mas que Humanitas é esse?
— Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível, — ou, para usar a linguagem do grande Camões:
Uma verdade que nas coisas anda,
Que mora no visíbil e invisíbil.
Pois essa sustância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é Humanitas.
Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo?
— Pouco; mas, ainda assim, como é que a morte de sua avó...
— Não há morte. O encontro de ditas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

(ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 648-649.)  


18. (Insper 2013)  Nesse excerto, Quincas Borba explica a base de sua teoria humanitista, finalizando com a máxima “Ao vencedor, as batatas”. O personagem apresenta, em seu discurso, uma concepção
a) subjetiva, tipicamente romântica, que revela uma visão idealizada da guerra.   
b) maniqueísta, tipicamente parnasiana, que vê o mundo dividido entre o bem e o mal.   
c) ingênua, tipicamente determinista, que expressa uma visão destituída de valores morais.   
d) pragmática, tipicamente naturalista, que expressa um olhar impassível diante de vitórias ou mortes.   
e) estereotipada, tipicamente realista, que enxerga os homens como seres movidos por instintos primitivos.   
  
19. (Insper 2013)  As imagens abaixo fazem parte do game “Filosofighters”. Inspirado em jogos de lutas, ele propõe uma batalha verbal entre importantes filósofos. Nele os argumentos dos pensadores valem como golpes, conforme se verifica na ilustração abaixo.


Relacione as teorias dos pensadores citados ao excerto de Machado de Assis. Por defender posição similar, infere-se que, no jogo, o “filósofo” Quincas Borba NÃO poderia ser adversário de
a) Aristóteles, pois ao definir a paz como “destruição” e a guerra como “conservação”, Quincas Borba recupera a ideia de que “o homem é livre só dentro de regras”.   
b) Jean Paul-Sartre, pois, assim como o filósofo existencialista, o mentor do Humanitismo mostra que a necessidade de alimentação determina a obediência ou a violação às regras.   
c) Hobbes, pois a tese do Humanitismo reafirma a ideologia do autor de “Leviatã”, entendendo que o estado natural é o conflito.   
d) Rousseau, pois defende os mesmos princípios do filósofo iluminista, mostrando que, embora pareça ser uma solução, a guerra traz grandes prejuízos à humanidade.   
e) nenhum dos pensadores citados, pois Quincas Borba, ao contrário deles, prevê um destino promissor para a humanidade.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto I

(...) No lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam irradiações da inteligência. (...) O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem.
(...)
Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a perspicácia com que essa moça de dezoito anos apreciava as questões mais complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios, a facilidade com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer operação aritmética por muito difícil e intrincada que fosse.
Não havia porém em Aurélia nem sombra do ridículo pedantismo de certas moças, que tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas, se metem a tagarelar de tudo.

(ALENCAR, José de. Senhora. SP: Editora Ática, 1980.)

Texto II

Aquela pobre flor de cortiço, escapando à estupidez do meio em que desabotoou, tinha de ser fatalmente vítima da própria inteligência. À míngua de educação, seu espírito trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigando-a a tirar da substância caprichosa da sua fantasia de moça ignorante e viva a explicação de tudo que lhe não ensinaram a ver e sentir.
(...)
Pombinha, só com três meses de cama franca, fizera-se tão perita no ofício como a outra; a sua infeliz inteligência nascida e criada no modesto lodo da estalagem, medrou admiravelmente na lama forte dos vícios de largo fôlego; fez maravilhas na arte; parecia adivinhar todos os segredos daquela vida; seus lábios não tocavam em ninguém sem tirar sangue; sabia beber, gota a gota, pela boca do homem mais avarento, todo dinheiro que a vítima pudesse dar de si.

(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. SP: Editora Ática, 1997.)  


20. (Insper 2013)  Considerando as descrições presentes nos fragmentos transcritos, é correto afirmar que
a) o texto I filia-se ao Romantismo, uma vez que nele a heroína é reflexo, em grande medida, das circunstâncias do ambiente em que se criou.   
b) o texto I filia-se ao Romantismo, já que nele a figura feminina é descrita sob o prisma da idealização.   
c) o texto I filia-se ao Naturalismo, pois as habilidades da personagem são naturais no meio em que vive.   
d) o texto II filia-se ao Realismo, já que a figura feminina é descrita de forma fiel à realidade do período histórico em que está inserida.   
e) o texto II filia-se ao Naturalismo, pois nele a personagem constitui uma representação inequívoca do perfil feminino típico.   
 
Gabarito:  

Resposta da questão 1:
 [A]

Considerando peculiaridades da obra machadiana em sua fase inicial, sabe-se que em A mão e a luva o autor evidencia as demasias do sentimento por intermédio de uma típica personagem romântica, Estêvão, assim como as convenções sociais, exemplificadas na necessidade de uma mulher se casar – mesmo que a escolha não esteja alicerçada nos sentimentos, mas em uma troca de interesses; finalmente, a descrição imparcial de objetos e personagens se dá por intermédio do foco narrativo em 3ª pessoa.
Vale ressaltar a escolha de Machado de Assis pela não-idealização de qualquer elemento da obra, traço que lhe é característico; do mesmo modo, a narrativa machadiana não se inclina ao polo oposto, aproximado ao Naturalismo. Ao contrário: o autor foi um crítico da exposição promovida por esse estilo literário.  

Resposta da questão 2:
 [D]

As alternativas [A], [B] e [C] são incorretas. Em [A] e [B], as referências dizem respeito ao Romantismo e Naturalismo, respectivamente, movimentos estético-literários que aconteceram em contextos históricos anteriores ao da “belle époque”. Em [C], faz-se referência à segunda fase do Modernismo no Brasil, posterior, portanto, à “belle époque”. Assim, é correta apenas a alternativa [D], que caracteriza o Pré-Modernismo no Brasil o qual abre espaço aos movimentos artísticos vanguardistas do início do século XX.  

Resposta da questão 3:
 [E]

A alternativa [A] apresenta características do Simbolismo; a [B], do Arcadismo; a [C], do Barroco; e a [D], do Romantismo. Assim, é correta a alternativa [E], que aponta alguns dos aspectos fundamentais do Parnasianismo.  

Resposta da questão 4:
 [E]

Ao considerar as características naturalistas, o trecho de O Cortiço não condena veladamente o sexo – ao contrário, estimula-o entre Jerônimo e Rita Baiana; além disso, não defende os princípios morais, uma vez que o principal tema abordado é o adultério.  

Resposta da questão 5:
 [B]

A primeira citação reflete as preocupações de Nacib sobre as exigências que havia feito a Gabriela, exigências típicas do perfil de mulher casada na sociedade conservadora e sobre o qual se debruça Simone de Beauvoir. A segunda reproduz a fantasia da personagem Clarissa, no romance Clarissa, de Érico Veríssimo. A terceira apresenta uma das falas de Macabeia, personagem da obra A hora da estrela, de Clarice Lispector. A quarta refere-se ao perfil da personagem do livro Helena, de Machado de Assis. Assim, a alternativa correta é [B]: 2 – 4 – 1 – 3.  

Resposta da questão 6:
 [D]

As alternativas[A], [B], [C] e [E] apresentam os efeitos que Olavo Bilac temia serem negativos se a imagem substituísse a escrita. A alternativa [D] é a única que contempla um efeito positivo desse processo: “não mais seremos obrigados a escrever barbaridades”.  

Resposta da questão 7:
 [A]

O texto escrito no início do século XX demonstra atualidade, conferida, sobretudo, por uma semelhança entre a vida moderna da época e a experiência contemporânea no que diz respeito à rapidez e à velocidade. Assim, é correta a alternativa [A].  

Resposta da questão 8:
 [B]

É correta a alternativa [B], pois a suposição antecipada acerca da maneira de representar a realidade, expressa na frase “Vereis que não hão de ser tão frequentes as controvérsias”, baseia-se no fato de a imagem retratar fielmente a realidade, enquanto que as palavras podem ser interpretadas de formas diferentes, dependendo da intenção quem as escreve e da subjetividade de quem as lê.  

Resposta da questão 9:
 a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba revela a hipocrisia do personagem-narrador que, nascido em família abastada e amparado pelos privilégios concedidos à elite burguesa do Segundo Reinado, nunca tivera de trabalhar para garantir a sua sobrevivência.
b) Brás Cubas assume comportamentos diferentes relativamente a Quincas Borba e a D. Plácida. Enquanto que ao primeiro, num gesto vaidoso e paternalista, lhe dava uma pequena esmola e aconselhava a trabalhar para conseguir mais dinheiro, à segunda, movido pelo interesse em manter uma aliada para os seus encontros clandestinos com Virgília, oferecia quantias generosas sem nenhum sentimento de culpa.  

Resposta da questão 10:
 [B]

Olavo Bilac, em “A prostituição infantil”, considera as crianças como vítimas de um sistema injusto que existe na sociedade em geral e para o qual não consegue prever solução, chegando a dizer que uma “morte providencial” seria talvez a melhor sorte para essas crianças ultrajadas e desamparadas, o que descarta as alternativas [A], [C], [D] e [E]. Assim, é correta apenas a alternativa [B].  

Resposta da questão 11:
 [A]

No soneto “Mal secreto”, de Raimundo Correia, o eu lírico expressa a sensação de que o comportamento social do indivíduo pode dissimular as agruras de uma vida penosa que não quer revelar a ninguém. Na última estrofe, os versos “Quanta gente que ri, talvez, consigo/guarda um atroz, recôndito inimigo” explicam que o indivíduo age muitas vezes de forma dissimulada para ser socialmente aceito, como se afirma em [A].  

Resposta da questão 12:
 [C]

Roberto Schwartz refere-se ao romance “O cortiço” de Aluísio de Azevedo o qual, segundo ele, é mais representativo de práticas recorrentes no Brasil do século XIX do que demonstrativo dos preceitos deterministas da escola naturalista que justificava a decadência social pela mistura de raças.  

Resposta da questão 13:
 [D]

A metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos porque representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas, como transcrito em [D]. Ao contrário do que normalmente acontecia, em que as badaladas do relógio eram associadas ao tempo que ia perdendo ao longo da vida, Brás Cubas declara que, naquela noite, não sentiu o mesmo enfado e tristeza. Conseguiu “congelar” o tempo para usufruir das sensações da lembrança do beijo trocado com Virgília, casada com José Lobo, personagem distante da idealização da virgem casta do estilo romântico.  

Resposta da questão 14:
 [D]

A opção [D] apresenta exatamente o oposto ao que acontece no estilo machadiano e especificamente com o narrador de “Memórias póstumas de Brás Cubas”. De fato, o enredo adquire importância secundária para que a linguagem irônica e ambígua do enunciador se constitua na representação tácita da hipocrisia social.  

Resposta da questão 15:
 [B]

No romance O cortiço, Aluísio Azevedo reproduz, com o exagero determinista típico do Naturalismo, o modo de vida em habitações coletivas populares no Rio de Janeiro do fim do século XIX, então Capital Federal.  

Resposta da questão 16:
 [D]

A referência a “patuscada” gera associação com “Memórias de um sargento de milícias”, obra em que o protagonista Leonardo participa ativamente de festanças e opta por um estilo de vida desregrado. No entanto, o meio em que se desenrola a ação, os subúrbios cariocas em que moram as camadas sociais mais simples e de nível cultural precário, contrasta com o ambiente da classe de pretensões elegantes a que pertence Brás Cubas. Assim, é correta a opção [D].  

Resposta da questão 17:
 [B]

Como a vírgula tem como função indicar uma pausa ou separar membros constituintes de uma frase, a expressão “era um comer virgulado” sugere uma ação interrompida pelos gestos de carinho dos amantes ou pelas pequenas zangas que compensavam o excesso de carícias e equilibravam a relação às vezes demasiado piegas.  

Resposta da questão 18:
 [D]

A teoria humanitista de Quincas Borba expressa a ideia da supremacia do mais forte e do mais esperto, uma sátira machadiana ao cientificismo do século XIX e à teoria de Charles Darwin acerca da seleção natural. Assim, é correta a opção [D], pois o discurso do personagem apresenta uma concepção típica do naturalismo, ou seja, uma visão concreta e materialista da existência, indiferente a vitórias ou mortes: “A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos”.  

Resposta da questão 19:
 [C]

Hobbes e Quincas Borba não poderiam ser adversários, pois ambos defendem a tese de que o conflito é inerente à natureza humana. Assim, é correta a opção [C].  

Resposta da questão 20:
 [B]

No Romantismo, a idealização da figura feminina manifesta-se na representação da “mulher demônio”, desencadeadora de paixões que levam o homem à perdição, e da “mulher anjo”, dotada de virtudes que a aproximam do divino. O Naturalismo reflete uma visão fatalista da existência, já que o ser humano é representado como animal condenado ao meio social em que vive. A descrição de Aurélia destaca a sua beleza, inteligência e firmeza de caráter, o que a desvincula da hipocrisia social fluminense do Segundo Reinado, em que vigorava o regime de casamento dotal e a que ela tinha ascendido por ter recebido uma vultosa herança. Assim, apenas a opção [B] é correta.