1.
(Uemg 2014) O excerto a seguir faz referência às tendências literárias que
predominaram na segunda metade do século XIX.
“O liame que se estabelecia entre o autor romântico e o mundo estava
afetado de uma série de mitos idealizantes: a natureza-mãe, a natureza-refúgio,
o amor-fatalidade, a mulher-diva, o herói-prometeu, sem falar na aura que
cingia alguns ídolos como a 'Nação', a 'Pátria', a 'Tradição', etc. O romântico
não teme as demasias do sentimento nem os riscos da ênfase patriótica; nem
falseia de propósito a realidade, como anacronicamente se poderia hoje inferir:
é a sua forma mental que está saturada de projeções e identificações violentas,
resultando-lhe natural a mitificação dos temas que escolhe. Ora, é esse
complexo ideo-afetivo que vai cedendo a um processo de crítica na literatura
dita 'realista'. Há um esforço, por parte do escritor antirromântico, de
acercar-se impessoalmente dos objetos, das pessoas. E uma sede de objetividade
que responde aos métodos científicos cada vez mais exatos nas últimas décadas
do século.”
Em A mão e a
luva, estão presentes os seguintes elementos:
a) demasias do
sentimento, descrição imparcial de objetos e personagens, convenções
sociais.
b) mulher-diva,
foco narrativo em 1ª pessoa, descrição idealizada do Rio de Janeiro.
c) falseamento
proposital da realidade, mitificação do amor e da natureza, patriotismo.
d) sede de
objetividade, identificações violentas, foco narrativo em 3ª pessoa.
2.
(Acafe 2014) Considerando o contexto
histórico descrito no texto a seguir, assinale a alternativa correta quanto
à produção literária no Brasil.
“Na Europa, a
segunda Revolução Industrial promovera modificações profundas. Inovações
tecnológicas desenvolveram a produção em massa de bens diversos. As cidades cresceram muito (em detrimento do
campo), e formou-se um proletariado que logo começou a organizar-se
politicamente. E, dentro desse contexto, as artes mudaram: a belle époque
assiste a uma sucessão de movimentos artísticos revolucionários.”
(LAFETÁ, 1982,
p. 99)
a) Na literatura rompeu-se com
a tradição clássica, imposta pelo período árcade, e apresentaram- se novas
concepções literárias, dentre as quais podem ser apontadas: a observação das
condições do estado de alma, das emoções, da liberdade, desabafos sentimentais,
valorização do índio, a manifestação do poder de Deus através da natureza
acolhedora ao homem, a temática voltada para o amor, para a saudade, o
subjetivismo.
b) Os escritores brasileiros
abordaram a realidade social do país, destacando a vida nos cortiços, o
preconceito, a diferenciação social, entre outros temas. O homem é encarado
como produto biológico passando a agir de acordo com seus instintos, chegando a
ser comparado com os animais (zoomorfização).
c) O romance focou o
regionalismo, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a
migração, os problemas do trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram
ressaltados. Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas;
surgiu o romance urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a
narrativa surrealista.
d) As características comuns
às obras literárias brasileiras desse período são: a ruptura com a linguagem
pomposa parnasiana; a exposição da realidade social brasileira; o regionalismo;
a marginalidade exposta nas personagens e associação aos fatos políticos,
econômicos e sociais.
3.
(Espcex (Aman) 2014) Quanto
à poesia parnasiana, é correto afirmar que se
caracteriza por
a) buscar
uma linguagem
capaz de sugerir a realidade, fazendo, para tanto, uso de símbolos, imagens,
metáforas, sinestesias, além de recursos sonoros e cromáticos, tudo com a
finalidade de exprimir o mundo interior, intuitivo, antilógico e antirracional.
b) cultivar o desprezo pela
vida urbana, ressaltando o gosto pela paisagem campestre; elevar o Ideal de uma
vida simples, integrada à natureza; conter nos poemas elementos da cultura
greco-latina; apresentar equilíbrio espiritual, racionalismo.
c) apresentar interesse por
temas religiosos, refletindo o conflito espiritual, a morbidez como forma de
acentuar o sentido trágico da vida, além do emprego constante de figuras de
linguagem e de termos requintados.
d) possuir subjetivismo,
egocentrismo e sentimentalismo, ampliando a experiência da sondagem Interior e
preparando o terreno para investigação psicológica.
e) pretender ser universal,
utilizando-se de uma linguagem objetiva, que busca a contenção dos sentimentos
e a perfeição formal.
4. (Espm 2014)

(...)
desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila
seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos
de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O
cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a
esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia,
era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo
aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos
bodes.
(Aluísio Azevedo, O Cortiço)
Tendo em vista as características naturalistas e cientificistas,
sobretudo do Determinismo, que predominam no romance O Cortiço, o trecho (assinale o item não pertinente):
a) explicita a
personagem que age de acordo com os impulsos característicos de sua raça.
b) põe em evidência
o zoomorfismo, em que se destacam os elementos instintivos de prazer,
sensualidade e desejo.
c) faz alusão à
competição entre os mais fortes (europeus) e os mais fracos (brasileiros).
d) ressalta o
homem sucumbindo aos fatores preponderantes do meio.
e) condena
veladamente o sexo e defende indiretamente os princípios morais.
5.
(Acafe 2014) Correlacione as colunas a
seguir, considerando o comentário com a citação respectiva.
COMENTÁRIO
( 1 ) A
protagonista de A Hora da Estrela reproduz cotidianamente o papel
imposto pelo masculino e concretiza, na sua existência rala, o projeto
identitário silenciosamente gestado no útero da cultura.
( 2 ) Simone
Beauvoir, em 1949, através da afirmação: “ninguém nasce mulher: torna-se
mulher”, traz uma importante reflexão sobre a categorização de ser mulher ou
homem em nossa sociedade. Sua intenção, com essa frase era questionar sobre a
suposta relação hierárquica entre o sexo biológico e a construção categorial da
mulher, ou seja, os comportamentos e atribuições nomeadas como “coisas de
mulher” são formuladas pela sociedade. Entre esses comportamentos e atribuições,
inclui-se o perfil da mulher casada que deve obedecer a certos padrões de
comportamentos.
( 3 ) Ela
era uma mulher prendada que possuía os dotes da família conservadora, mas
também tinha seu lado emancipatório, questionava e tentava colocar suas ideias;
o modelo patriarcal era ainda muito forte e ela não conseguiu mudar.
( 4 ) Imergindo
em um mundo de acontecimentos corriqueiros, o narrador revela o olhar da
protagonista sobre a realidade circundante. E é assim, através da observação
das pequenas coisas e pelo resgate de memória, que a personagem vai percebendo
o mundo e ampliando sua consciência sobre o mesmo. É a menina que se encanta
com um universo de descobertas, de tonalidades e movimentos, de acontecimentos
e sensações, que se constitui em sujeito-mulher no imaginário do leitor.
CITAÇÃO
( ) “Talvez ele houvesse
exigido em demasia, sem levar em conta a maneira de ser de sua mulher, querendo
transformá-la de um dia para outro numa senhora de alta roda, da nata ilheense,
arrancando-lhe quase à força hábitos arraigados. Sem paciência para educá-la
aos poucos. Ela queria ir ao circo, ele a arrastava à conferência enfadonha,
soporífera. Não a deixava rir por um tudo e por um nada como era seu costume.
Repreendia-a a todo momento, por ninharias, no desejo de torná-la igual às
senhoras dos médicos e advogados, dos coronéis e comerciantes. Não fale alto, é
feio, cochichava- lhe no cinema. Sente-se direito, não estenda as pernas, feche
os joelhos. Com esses sapatos, não. Bote os novos, para que tem? Ponha um
vestido decente. Vamos hoje visitar minha tia. Veja como se comporta.”
( ) “[...] segue num
encantamento. Sua sombra se espicha na escada. Como a vida é boa! E como seria
mil vezes melhor, se não houvesse esta necessidade (necessidade não: obrigação)
de ir para o colégio, de ficar horas e horas curvada sobre a classe, rabiscando
números, escrevendo frases e palavras, aprendendo onde fica o Cabo da Boa
Esperança, quem foi Tomé de Sousa, em quantas partes se divide o corpo humano,
como é que se acha a área de um triângulo...”
( ) “Só depois é que pensava
com satisfação: sou datilógrafa, e virgem, e gosto de coca-cola. Só então
vestia-se de si mesma, passava o resto do dia representando com obediência o
papel de ser.”
( ) “[...] Paixões de largos
anos, chegando ao casamento, acabam muitas vezes pela separação ou pelo ódio,
quando menos pela indiferença. O amor não é mais que um instrumento de escolha;
amar é eleger a criatura que há de ser companheira na vida, não é afiançar a
perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou
corromper-se. Que resta à maior parte dos casamentos, logo após os anos de
paixão? Uma afeição pacífica, a estima, a intimidade. Não peço mais ao
casamento, nem lhe posso dar mais do que isso.”
A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) 3 - 1 - 2 - 4
b) 2 - 4 - 1 - 3
c) 4 - 2 - 3 - 1
d) 1 - 3 - 4 - 2
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
Fotojornalismo
12Vem perto o dia
em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira
desgraça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta
o solo debaixo dos pés… Um exército rival vem solapando os alicerces em que até
agora assentava a nossa supremacia: é o exército dos desenhistas, dos
caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará a pena: 1ceci
tuera cela.
13O público tem
pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas,
nem reflexões profundas. A onda humana galopa, numa espumarada bravia, sem
descanso. Quem não se apressar com ela será arrebatado, esmagado, exterminado. 8O
século não tem tempo a perder. A eletricidade já suprimiu as distâncias: daqui
a pouco, quando um europeu espirrar, ouvirá 2incontinenti o “Deus te
ajude” de um americano. 17E ainda a ciência humana há de achar o meio de simplificar e apressar a
vida por forma tal que os homens já nascerão com dezoito anos, aptos e armados
para todas as batalhas da existência.
9Já ninguém mais
lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas, que entram
pelos olhos da gente com uma insistência assombrosa. As legendas são curtas e
incisivas: 18toda a explicação
vem da gravura, que conta conflitos e mortes, casos alegres e casos tristes.
É provável que
o jornal-modelo do século 20 seja um imenso 3animatógrafo, por cuja
tela vasta passem reproduzidos, instantaneamente, todos os incidentes da vida
cotidiana. Direis que as ilustrações, sem palavras que as expliquem, não
poderão doutrinar as massas nem fazer uma propaganda eficaz desta ou daquela
ideia política. Puro engano. Haverá ilustradores para a sátira, ilustradores
para a piedade.
(...) Demais, 19nada impede que
seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz 4tonitruosa,
encarregado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou picante, das
fotografias.
E convenhamos
que, no dia em que nós, cronistas e noticiaristas, houvermos desaparecido da
cena – nem por isso se subverterá a ordem social. 14As palavras são
traidoras, e a fotografia é fiel. A pena nem sempre é ajudada pela
inteligência; ao passo que 20a máquina fotográfica funciona sempre
sob a 5égide da soberana Verdade, a coberto das inumeráveis ciladas
da Mentira, do Equívoco e da Miopia intelectual. 21Vereis que não
hão de ser tão frequentes as controvérsias…
(...)
Não insistamos
sobre os benefícios da grande revolução que a fotogravura vem fazer no
jornalismo. Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo terá a utilidade
de evitar que nossas opiniões fiquem, como atualmente ficam, fixadas e
conservadas eternamente, para 6gáudio dos inimigos… Qual de vós,
irmãos, não escreve todos os dias quatro ou cinco tolices que desejariam ver
apagadas ou extintas? Mas, ai! de todos nós! 15Não há morte
para as nossas tolices! 16Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...)
catalogadas.
(...)
No jornalismo do Rio de
Janeiro, já se iniciou a revolução, que vai ser a nossa morte e a 7opulência
dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para morrer, irmãos, sem lamentações
ridículas, 10aceitando resignadamente a fatalidade das coisas, e
consolando-nos uns aos outros com a cortesia de que, ao menos, 11não
mais seremos obrigados a escrever barbaridades…
Saudemos a nova era da
imprensa! A revolução tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada a
consciência.
Olavo Bilac
Gazeta de
Notícias,
13/01/1901.
1 ceci tuera cela −
isto vai matar aquilo
2 incontinenti − sem demora
3 animatógrafo − aparelho
que passa imagens sequenciais
4 tonitruosa − com o volume
alto
5 égide − proteção
6 gáudio − alegria extremada
7 opulência − riqueza,
grandeza
6.
(Uerj 2014) Já em 1901, o escritor
Olavo Bilac temia que a imagem substituísse a escrita. No entanto, ele
reconhecia aspectos positivos dessa possível substituição.
Um desses aspectos é
observado no seguinte trecho:
a) O século não tem tempo a
perder. (ref 8)
b) Já ninguém mais lê artigos.
(ref.9)
c) aceitando resignadamente a
fatalidade das coisas, (ref. 10)
d) não mais seremos obrigados
a escrever barbaridades... (ref. 11)
7.
(Uerj 2014) O texto, apesar de escrito
no início do século XX, demonstra surpreendente atualidade, conferida sobretudo
por uma semelhança entre a vida moderna da época e a experiência contemporânea.
Essa semelhança está exemplificada na passagem apresentada em:
a) O público tem pressa. (ref.
13)
b) As palavras são traidoras,
e a fotografia é fiel. (ref. 14)
c) Não há morte para as nossas
tolices! (ref. 15)
d) Nas bibliotecas e nos
escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas. (ref. 16)
8.
(Uerj 2014) Vereis que não hão de ser
tão frequentes as controvérsias… (ref. 21)
A previsão de Bilac sobre a diminuição das
controvérsias ou polêmicas, por causa da vitória da imagem sobre a palavra,
baseia-se em uma pressuposição acerca da maneira de representar a realidade.
Essa pressuposição está enunciada em:
a) o desenho critica o real e
as palavras expressam consciência
b) a fotografia reproduz o
real e as palavras provocam distorções
c) a imagem interpreta o real
e as palavras precisam de inteligência
d) a fotogravura subverte o
real e as palavras tendem ao conservadorismo
9.
(Fuvest 2013) No excerto abaixo, narra-se
parte do encontro de Brás Cubas com Quincas Borba, quando este, reduzido à
miséria, mendigava nas ruas do Rio de Janeiro:
Tirei a carteira, escolhi
uma nota de cinco mil-réis, – a menos limpa, – e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele
recebeu-ma com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e
agitou-a entusiasmado.
— In hoc signo vinces!* bradou.
E depois beijou-a, com
muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um
sentimento misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou
sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era
alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis.
— Pois está em suas mãos
ver outras muitas, disse eu.
— Sim? acudiu ele, dando um
bote para mim.
— Trabalhando, concluí eu.
* “In hoc signo vinces!”: citação em latim que
significa “Com este sinal vencerás” (frase que teria aparecido no céu, junto de
uma cruz, ao imperador Constantino, antes de uma batalha).
Machado de
Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
a) Tendo em vista a autobiografia de Brás
Cubas e as considerações que, ao longo de suas Memórias póstumas, ele
tece a respeito do tema do trabalho, comente o conselho que, no excerto, ele dá
a Quincas Borba: “— Trabalhando, concluí eu”.
b) Tendo, agora, como referência, a história
de D. Plácida, contada no livro, discuta sucintamente o mencionado conselho de
Brás Cubas.
10. (Ufpa 2013) Em fevereiro de 1897, o poeta Olavo
Bilac substitui o já renomado romancista Machado de Assis na função de cronista
do periódico fluminense Gazeta de Notícias. A crônica, que no século XIX
cumpre a função de registrar as questões mais prementes do dia, fossem
políticas, culturais ou literárias, é o gênero ao qual se dedicará o poeta
conhecido como um dos mestres do verso parnasiano.
A respeito da crônica “A prostituição infantil”, é correto afirmar que
Olavo Bilac
a) assume uma
postura neutra com relação à prostituição e exploração do trabalho infantil que
grassavam nas ruas do Rio de Janeiro de fins do século XIX.
b) narra seu
encontro noturno com uma criança que vendia flores, demonstra sua indignação
com a prostituição e exploração do trabalho infantil, pondo sua verve literária
a serviço de uma causa social.
c) considera que a
prostituição e o trabalho infantil não são um problema social no Rio de Janeiro
de sua época.
d) afirma que
todos têm “mais o que fazer”, de forma que não interessa a ele e aos leitores o
destino das meninas que se prostituem e vendem flores aos passantes.
e) elogia a
polícia por ter dado fim à prostituição e ao trabalho infantil nas ruas do Rio
de Janeiro.
11.
(Enem 2013) Mal
secreto
Se a cólera que
espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói
cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge,
tudo o que devora
O coração, no
rosto se estampasse;
Se se pudesse, o
espírito que chora,
Ver através da
máscara da face,
Quanta gente,
talvez, que inveja agora
Nos causa, então
piedade nos causasse!
Quanta gente que
ri, talvez, consigo
Guarda um atroz,
recôndito inimigo,
Como invisível
chaga cancerosa!
Quanta gente que
ri, talvez existe,
Cuja ventura
única consiste
Em parecer aos
outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para
compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.
Coerente com a
proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o
soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo
são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela
que
a) a
necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma
dissimulada.
b) o
sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
c) a
capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de
inveja.
d) o
instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
e) a
transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.
12.
(Fuvest 2013) Leia o seguinte texto.
O autor pensava estar
romanceando o processo brasileiro de guerra e acomodação entre as raças, em
conformidade com as teorias racistas da época, mas, na verdade, conduzido pela
lógica da ficção, mostrava um processo primitivo de exploração econômica e
formação de classes, que se encaminhava de um modo passavelmente bárbaro e
desmentia as ilusões do romancista.
Roberto
Schwarz. Adaptado.
Esse texto crítico refere-se ao livro
a) Memórias de um sargento de
milícias.
b) Til.
c) O cortiço.
d) Vidas secas.
e) Capitães da areia.
13.
(Enem 2013) Capítulo
LIV — A pêndula
Saí
dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi
o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o
sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso
e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida.
Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da
morte, e a contá-las assim:
—
Outra de menos…
—
Outra de menos…
—
Outra de menos…
—
Outra de menos…
O
mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não
deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos.
Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o
relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio
e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que
morre.
Naquela
noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As
fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de
devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes
perdidos, mas os minutos ganhados.
ASSIS, M. Memórias póstumas
de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).
O capítulo
apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com
Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio
desconstrói certos paradigmas românticos, porque
a) o
narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros.
b) como
“defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o
fluxo do tempo.
c) na
contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular
riquezas.
d) o
relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento
idealista de Brás Cubas.
e) o
narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.
14.
(Fuvest 2013) Em quatro das alternativas
abaixo, registram-se alguns dos aspectos que, para bem caracterizar o gênero e
o estilo das Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico J. G. Merquior pôs
em relevo nessa obra de Machado de Assis. A única alternativa que, invertendo,
aliás, o juízo do mencionado crítico, aponta uma característica que NÃO se
aplica à obra em questão é:
a) ausência praticamente
completa de distanciamento enobrecedor na figuração das personagens e de suas
ações.
b) mistura do sério e do
cômico, de que resulta uma abordagem humorística das questões mais cruciais.
c) ampla liberdade do texto em
relação aos ditames da verossimilhança.
d) emprego de uma linguagem
que evita chamar a atenção sobre si mesma, apagando-se, assim, por detrás da
coisa narrada.
e) uso frequente de gêneros
intercalados — por exemplo, cartas ou bilhetes, historietas etc. — embutidos no
conjunto da obra global.
15.
(Ufg 2013) O contexto sócio-histórico
do Brasil, no século XIX, evidencia-se no enredo do romance O cortiço,
de Aluísio Azevedo, por meio das
a) práticas de trabalho na
pedreira de João Romão, que se baseiam na exploração de mão de obra excedente
do processo de industrialização no Rio de Janeiro.
b) condições de moradia do
cortiço São Romão, que reproduzem o modo de vida próprio do principal tipo de
habitação popular da então Capital Federal.
c) disputas territoriais, que
expressam, no confronto entre os carapicus e os cabeças-de-gato, a violência
característica dos primeiros cortiços cariocas.
d) manifestações folclóricas,
que representam, na dança, na música e na culinária dos moradores do cortiço, o
exotismo inerente ao povo brasileiro.
e) correntes migratórias, que
configuram o cortiço São Romão como uma comunidade formada por comerciantes
portugueses em busca de ascensão social.
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
CAPÍTULO 73 - O Luncheon*
O despropósito
fez-me perder outro capítulo. Que melhor não era dizer as coisas lisamente, sem
todos estes solavancos! Já comparei o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a
ideia vos parece indecorosa, direi que ele é o que eram as minhas refeições com
Virgília, na casinha da Gamboa, onde às vezes fazíamos a nossa patuscada, o
nosso luncheon. Vinho, frutas, compotas. Comíamos, é verdade, mas era um comer
virgulado de palavrinhas doces, de olhares ternos, de criancices, uma
infinidade desses apartes do coração, aliás o verdadeiro, o ininterrupto discurso
do amor. Às vezes vinha o arrufo temperar o nímio adocicado da situação. Ela
deixava-me, refugiava-se num canto do canapé, ou ia para o interior ouvir as
denguices de Dona Plácida. Cinco ou dez minutos depois, reatávamos a palestra,
como eu reato a narração, para desatá-la outra vez. Note-se que, longe de
termos horror ao método, era nosso costume convidá-lo, na pessoa de Dona
Plácida, a sentar-se conosco à mesa; mas Dona Plácida não aceitava nunca.
Machado de
Assis, Memórias póstumas de Brás
Cubas.
(*) Luncheon (Ing.):
lanche, refeição ligeira, merenda.
16.
(Fgvrj 2013) No trecho, revelam,
respectivamente, um parentesco e um afastamento em relação às Memórias de um sargento de milícias,
de Manuel Antônio de Almeida, o termo
a) “despropósito” e as
intenções moralizantes do narrador.
b) “solavancos” e a
sentimentalidade romântica dos amantes.
c) “luncheon” e a
intimidade erótica do casal.
d) “patuscada” e o contexto de
classe de pretensões elegantes.
e) “criancices” e o
anticlericalismo latente.
17.
(Fgvrj 2013) Uma palavra, própria da
língua escrita, foi empregada figuradamente, no texto, para caracterizar uma
ação não verbal. Ela aparece no seguinte trecho:
a) “Já comparei o meu estilo”.
b) “era um comer virgulado”.
c) “desses apartes do
coração”.
d) “o ininterrupto discurso do
amor”.
e) “reatávamos a palestra”.
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
— Mas que Humanitas é esse?
— Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa substância
recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível
e indestrutível, — ou, para usar a linguagem do grande Camões:
Uma verdade que nas coisas anda,
Que mora no visíbil e invisíbil.
Pois essa sustância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é
Humanitas.
Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais
entendendo?
— Pouco; mas, ainda assim, como é que a morte de sua avó...
— Não há morte. O encontro de ditas expansões, ou a expansão de duas
formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há
morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da
outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter
conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos
famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim
adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas
em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não
chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a
destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e
recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações,
recompensas públicas e todos demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não
fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que
o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo
racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao
vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
(ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Quincas
Borba. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 648-649.)
18. (Insper 2013) Nesse excerto, Quincas Borba explica a
base de sua teoria humanitista, finalizando com a máxima “Ao vencedor, as
batatas”. O personagem apresenta, em seu discurso, uma concepção
a) subjetiva,
tipicamente romântica, que revela uma visão idealizada da guerra.
b) maniqueísta,
tipicamente parnasiana, que vê o mundo dividido entre o bem e o mal.
c) ingênua,
tipicamente determinista, que expressa uma visão destituída de valores morais.
d) pragmática,
tipicamente naturalista, que expressa um olhar impassível diante de vitórias ou
mortes.
e) estereotipada,
tipicamente realista, que enxerga os homens como seres movidos por instintos
primitivos.
19. (Insper 2013) As imagens abaixo fazem
parte do game “Filosofighters”. Inspirado em jogos de lutas, ele propõe uma
batalha verbal entre importantes filósofos. Nele os argumentos dos pensadores
valem como golpes, conforme se verifica na ilustração abaixo.

Relacione as teorias dos pensadores citados ao excerto de Machado de
Assis. Por defender posição similar, infere-se que, no jogo, o “filósofo”
Quincas Borba NÃO poderia ser adversário de
a) Aristóteles,
pois ao definir a paz como “destruição” e a guerra como “conservação”, Quincas
Borba recupera a ideia de que “o homem é livre só dentro de regras”.
b) Jean
Paul-Sartre, pois, assim como o filósofo existencialista, o mentor do
Humanitismo mostra que a necessidade de alimentação determina a obediência ou a
violação às regras.
c) Hobbes, pois a
tese do Humanitismo reafirma a ideologia do autor de “Leviatã”, entendendo que
o estado natural é o conflito.
d) Rousseau, pois
defende os mesmos princípios do filósofo iluminista, mostrando que, embora
pareça ser uma solução, a guerra traz grandes prejuízos à humanidade.
e) nenhum dos
pensadores citados, pois Quincas Borba, ao contrário deles, prevê um destino
promissor para a humanidade.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto I
(...) No lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam irradiações da
inteligência. (...) O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o
coração, para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades
especulativas do homem.
(...)
(...)
Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a
perspicácia com que essa moça de dezoito anos apreciava as questões mais
complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios, a facilidade
com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer operação aritmética por muito
difícil e intrincada que fosse.
Não havia porém em Aurélia nem sombra do ridículo pedantismo de certas
moças, que tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas, se
metem a tagarelar de tudo.
(ALENCAR, José de. Senhora. SP: Editora
Ática, 1980.)
Texto II
Aquela pobre flor de cortiço, escapando à estupidez do meio em que
desabotoou, tinha de ser fatalmente vítima da própria inteligência. À míngua de
educação, seu espírito trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigando-a a tirar
da substância caprichosa da sua fantasia de moça ignorante e viva a explicação
de tudo que lhe não ensinaram a ver e sentir.
(...)
Pombinha, só com três meses de cama franca, fizera-se tão perita no
ofício como a outra; a sua infeliz inteligência nascida e criada no modesto
lodo da estalagem, medrou admiravelmente na lama forte dos vícios de largo
fôlego; fez maravilhas na arte; parecia adivinhar todos os segredos daquela
vida; seus lábios não tocavam em ninguém sem tirar sangue; sabia beber, gota a
gota, pela boca do homem mais avarento, todo dinheiro que a vítima pudesse dar
de si.
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. SP:
Editora Ática, 1997.)
20. (Insper 2013) Considerando as descrições presentes
nos fragmentos transcritos, é correto afirmar que
a) o texto I
filia-se ao Romantismo, uma vez que nele a heroína é reflexo, em grande medida,
das circunstâncias do ambiente em que se criou.
b) o texto I
filia-se ao Romantismo, já que nele a figura feminina é descrita sob o prisma
da idealização.
c) o texto I
filia-se ao Naturalismo, pois as habilidades da personagem são naturais no meio
em que vive.
d) o texto II
filia-se ao Realismo, já que a figura feminina é descrita de forma fiel à
realidade do período histórico em que está inserida.
e) o texto II
filia-se ao Naturalismo, pois nele a personagem constitui uma representação
inequívoca do perfil feminino típico.
Gabarito:
Resposta da questão 1:
[A]
[A]
Considerando
peculiaridades da obra machadiana em sua fase inicial, sabe-se que em A mão e a luva o autor evidencia as
demasias do sentimento por intermédio de uma típica personagem romântica,
Estêvão, assim como as convenções sociais, exemplificadas na necessidade de uma
mulher se casar – mesmo que a escolha não esteja alicerçada nos sentimentos,
mas em uma troca de interesses; finalmente, a descrição imparcial de objetos e
personagens se dá por intermédio do foco narrativo em 3ª pessoa.
Vale
ressaltar a escolha de Machado de Assis pela não-idealização de qualquer
elemento da obra, traço que lhe é característico; do mesmo modo, a narrativa
machadiana não se inclina ao polo oposto, aproximado ao Naturalismo. Ao
contrário: o autor foi um crítico da exposição promovida por esse estilo
literário.
Resposta da questão 2:
[D]
[D]
As
alternativas [A], [B] e [C] são incorretas. Em [A] e [B], as referências dizem
respeito ao Romantismo e Naturalismo, respectivamente, movimentos
estético-literários que aconteceram em contextos históricos anteriores ao da
“belle époque”. Em [C], faz-se referência à segunda fase do Modernismo no
Brasil, posterior, portanto, à “belle époque”. Assim, é correta apenas a
alternativa [D], que caracteriza o Pré-Modernismo no Brasil o qual abre espaço
aos movimentos artísticos vanguardistas do início do século XX.
Resposta da questão 3:
[E]
[E]
A alternativa
[A] apresenta características do Simbolismo; a [B], do Arcadismo; a [C], do
Barroco; e a [D], do Romantismo. Assim, é correta a alternativa [E], que aponta
alguns dos aspectos fundamentais do Parnasianismo.
Resposta da questão 4:
[E]
[E]
Ao considerar
as características naturalistas, o trecho de O Cortiço não condena veladamente o sexo – ao contrário, estimula-o
entre Jerônimo e Rita Baiana; além disso, não defende os princípios morais, uma
vez que o principal tema abordado é o adultério.
Resposta da questão 5:
[B]
[B]
A primeira citação reflete as preocupações de Nacib sobre as exigências
que havia feito a Gabriela, exigências típicas do perfil de mulher casada na
sociedade conservadora e sobre o qual se debruça Simone de Beauvoir. A segunda
reproduz a fantasia da personagem Clarissa, no romance Clarissa, de
Érico Veríssimo. A terceira apresenta uma das falas de Macabeia, personagem da obra
A hora da estrela, de Clarice Lispector. A quarta refere-se ao perfil da
personagem do livro Helena, de Machado de Assis. Assim, a alternativa
correta é [B]: 2 – 4 – 1 – 3.
Resposta da questão 6:
[D]
[D]
As
alternativas[A], [B], [C] e [E] apresentam os efeitos que Olavo Bilac temia
serem negativos se a imagem substituísse a escrita. A alternativa [D] é a única
que contempla um efeito positivo desse processo: “não mais seremos obrigados a
escrever barbaridades”.
Resposta da questão 7:
[A]
[A]
O
texto escrito no início do século XX demonstra atualidade, conferida,
sobretudo, por uma semelhança entre a vida moderna da época e a experiência
contemporânea no que diz respeito à rapidez e à velocidade. Assim, é correta a
alternativa [A].
Resposta da questão 8:
[B]
[B]
É
correta a alternativa [B], pois a suposição antecipada acerca da maneira de
representar a realidade, expressa na frase “Vereis que não hão de ser tão
frequentes as controvérsias”, baseia-se no fato de a imagem retratar fielmente
a realidade, enquanto que as palavras podem ser interpretadas de formas
diferentes, dependendo da intenção quem as escreve e da subjetividade de quem
as lê.
Resposta da questão 9:
a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba revela a hipocrisia do personagem-narrador que, nascido em família abastada e amparado pelos privilégios concedidos à elite burguesa do Segundo Reinado, nunca tivera de trabalhar para garantir a sua sobrevivência.
a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba revela a hipocrisia do personagem-narrador que, nascido em família abastada e amparado pelos privilégios concedidos à elite burguesa do Segundo Reinado, nunca tivera de trabalhar para garantir a sua sobrevivência.
b) Brás Cubas
assume comportamentos diferentes relativamente a Quincas Borba e a D. Plácida.
Enquanto que ao primeiro, num gesto vaidoso e paternalista, lhe dava uma
pequena esmola e aconselhava a trabalhar para conseguir mais dinheiro, à
segunda, movido pelo interesse em manter uma aliada para os seus encontros
clandestinos com Virgília, oferecia quantias generosas sem nenhum sentimento de
culpa.
Resposta da questão 10:
[B]
[B]
Olavo Bilac,
em “A prostituição infantil”, considera as crianças como vítimas de um sistema
injusto que existe na sociedade em geral e para o qual não consegue prever
solução, chegando a dizer que uma “morte providencial” seria talvez a melhor
sorte para essas crianças ultrajadas e desamparadas, o que descarta as
alternativas [A], [C], [D] e [E]. Assim, é correta apenas a alternativa [B].
Resposta da questão 11:
[A]
[A]
No soneto “Mal secreto”, de Raimundo Correia, o eu lírico expressa a
sensação de que o comportamento social do indivíduo pode dissimular as agruras
de uma vida penosa que não quer revelar a ninguém. Na última estrofe, os versos
“Quanta gente que ri, talvez, consigo/guarda um atroz, recôndito inimigo” explicam
que o indivíduo age muitas vezes de forma dissimulada para ser socialmente
aceito, como se afirma em [A].
Resposta da questão 12:
[C]
[C]
Roberto
Schwartz refere-se ao romance “O cortiço” de Aluísio de Azevedo o qual, segundo
ele, é mais representativo de práticas recorrentes no Brasil do século XIX do
que demonstrativo dos preceitos deterministas da escola naturalista que
justificava a decadência social pela mistura de raças.
Resposta da questão 13:
[D]
[D]
A metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos porque
representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de
Brás Cubas, como transcrito em [D]. Ao contrário do que normalmente acontecia,
em que as badaladas do relógio eram associadas ao tempo que ia perdendo ao
longo da vida, Brás Cubas declara que, naquela noite, não sentiu o mesmo enfado
e tristeza. Conseguiu “congelar” o tempo para usufruir das sensações da
lembrança do beijo trocado com Virgília, casada com José Lobo, personagem
distante da idealização da virgem casta do estilo romântico.
Resposta da questão 14:
[D]
[D]
A opção [D]
apresenta exatamente o oposto ao que acontece no estilo machadiano e
especificamente com o narrador de “Memórias póstumas de Brás Cubas”. De fato, o
enredo adquire importância secundária para que a linguagem irônica e ambígua do
enunciador se constitua na representação tácita da hipocrisia social.
Resposta da questão 15:
[B]
[B]
No romance O cortiço, Aluísio Azevedo reproduz, com
o exagero determinista típico do Naturalismo, o modo de vida em habitações
coletivas populares no Rio de Janeiro do fim do século XIX, então Capital
Federal.
Resposta da questão 16:
[D]
[D]
A referência
a “patuscada” gera associação com “Memórias de um sargento de milícias”, obra
em que o protagonista Leonardo participa ativamente de festanças e opta por um
estilo de vida desregrado. No entanto, o meio em que se desenrola a ação, os
subúrbios cariocas em que moram as camadas sociais mais simples e de nível
cultural precário, contrasta com o ambiente da classe de pretensões elegantes a
que pertence Brás Cubas. Assim, é correta a opção [D].
Resposta da questão 17:
[B]
[B]
Como a
vírgula tem como função indicar uma pausa ou separar membros constituintes de
uma frase, a expressão “era um comer virgulado” sugere uma ação
interrompida pelos gestos de carinho dos amantes ou pelas pequenas zangas que
compensavam o excesso de carícias e equilibravam a relação às vezes demasiado
piegas.
Resposta da questão 18:
[D]
[D]
A
teoria humanitista de Quincas Borba expressa a ideia da supremacia do mais
forte e do mais esperto, uma sátira machadiana ao cientificismo do século XIX e
à teoria de Charles Darwin acerca da seleção natural. Assim, é correta a opção
[D], pois o discurso do personagem apresenta uma concepção típica do
naturalismo, ou seja, uma visão concreta e materialista da existência,
indiferente a vitórias ou mortes: “A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra
é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos”.
Resposta da questão 19:
[C]
[C]
Hobbes
e Quincas Borba não poderiam ser adversários, pois ambos defendem a tese de que
o conflito é inerente à natureza humana. Assim, é correta a opção [C].
Resposta da questão 20:
[B]
[B]
No
Romantismo, a idealização da figura feminina manifesta-se na representação da
“mulher demônio”, desencadeadora de paixões que levam o homem à perdição, e da
“mulher anjo”, dotada de virtudes que a aproximam do divino. O Naturalismo
reflete uma visão fatalista da existência, já que o ser humano é representado
como animal condenado ao meio social em que vive. A descrição de Aurélia
destaca a sua beleza, inteligência e firmeza de caráter, o que a desvincula da
hipocrisia social fluminense do Segundo Reinado, em que vigorava o regime de
casamento dotal e a que ela tinha ascendido por ter recebido uma vultosa
herança. Assim, apenas a opção [B] é correta.