1. (Ufpe 2013) A poesia lírica é o espaço ideal para a
temática do amor, desde a antiguidade clássica até a atualidade. Mudam-se os
tempos, as ideologias, e o amor continua um sentimento indecifrável e
paradoxal. Daí ser motivo dos dois poemas que seguem. Leia-os e analise as
proposições que a eles se referem.
Sete anos de pastor Jacó servia
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se não a tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
(Camões)
Soneto de Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinícius de Moraes)
( ) Nos dois
poemas, pertencentes, respectivamente, ao Classicismo e ao Romantismo, o tema
do amor é trabalhado numa forma fixa.
( ) São dois
sonetos que mantêm relação de intertextualidade, pois o segundo retoma o
primeiro em sua forma e em seu conteúdo.
( ) Nos dois
poemas, a concepção de amor é diversa, pois o primeiro expressa a finitude desse
sentimento, e o segundo, ao contrário, apresenta-o como eterno.
( ) No último verso
de seu poema, Camões usa uma antítese para dar conta da idealização do amor.
Vinicius de Moraes, nos dois últimos versos do segundo quarteto, recorre também
a oposições, que expressam o desejo de viver o sentimento amoroso em todos os
momentos.
( ) Enquanto o
segundo soneto apresenta uma concepção do amor mais fiel à vivência dos afetos
no século XX, o primeiro traz uma visão platônica idealizada do sentimento
amoroso, própria do Classicismo do século XVI.
2.
(G1 - ifsp 2013) São características das
obras do Classicismo:
a) o individualismo, a
subjetividade, a idealização, o sentimento exacerbado.
b) o egocentrismo, a interação
da natureza com o eu, as formas perfeitas.
c) o contraste entre o
grotesco e o sublime, a valorização da natureza, o escapismo.
d) a observação da realidade,
a valorização do eu, a perfeição da natureza.
e) a retomada da mitologia
pagã, a pureza das formas, a busca da perfeição estética.
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
Esse texto do século XVI reflete um momento
de expansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a apropriação de
alguns gêneros discursivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa produção
é a Carta de Caminha a D. Manuel. Considere a seguinte parte dessa
carta:
Nela [na
terra] até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em
si é de muito bons ares assim frios e temperados como os de
Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa
que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém
o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente e
esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.
3.
(G1 - ifsp 2013) O verbo sob destaque no
trecho – ...até agora não pudemos saber
que haja ouro nem prata... – sinaliza a seguinte intenção do
escrevente:
a) por meio do modo
subjuntivo, evidenciar uma constatação.
b) por meio do modo
subjuntivo, evidenciar uma insatisfação.
c) por meio do modo
subjuntivo, evidenciar uma incerteza.
d) por meio do modo
indicativo, evidenciar uma convicção.
e) por meio do modo
indicativo, evidenciar uma hipótese.
4.
(G1 - ifsp 2013) Assinale a alternativa em
que as palavras grifadas estão empregadas em sentido conotativo.
a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...
b) Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa
que querendo-a aproveitar...
c) ...querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas
que tem...
d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será
salvar esta gente...
e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve
lançar.
5.
(G1 - ifsp 2013) O trecho apresentado é
preponderantemente descritivo. A classe de palavras que aparece associada a
esse tipo textual é o adjetivo. São exemplos de palavras dessa classe, no
texto, as seguintes:
a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...
b) Águas são muitas e infindas.
c) ...dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...
d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será
salvar esta gente...
e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve
lançar.
6.
(Insper 2012) Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser,
muda-se a confiança;
todo o mundo é
composto de mudança,
tomando sempre
novas qualidades.
Continuamente
vemos novidades,
diferentes em
tudo da esperança;
do mal ficam as
mágoas na lembrança,
e do bem (se
algum houve), as saudades.
O tempo cobre o
chão de verde manto,
que já coberto
foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro
o doce canto.
E, afora este
mudar-se cada dia,
outra mudança faz
de mor espanto,
que não se muda
já como soía*.
Luís Vaz de
Camões
*soía: Imperfeito do indicativo do
verbo soer, que significa costumar, ser de costume
Assinale a alternativa em que se analisa
corretamente o sentido dos versos de Camões.
a) O foco temático do soneto
está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as
suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte.
b) Pode-se inferir, a partir
da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da
instabilidade se torna maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas.
c) Ao tratar de mudanças e da
passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se
baseia no postulado da imutabilidade.
d) Na segunda estrofe, o eu
lírico vê com pessimismo as mudanças que se operam no mundo, porque constata
que elas são geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada.
e) As duas últimas estrofes
autorizam concluir que a ideia de que nada é permanente não passa de uma
ilusão.
7. (Enem 2012) LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um
paraíso;
Entre rubis e perlas doce
riso;
Debaixo de ouro e neve
cor-de-rosa;
Presença moderada e
graciosa,
Onde ensinando estão
despejo e siso
Que se pode por arte e por
aviso,
Como por natureza, ser
fermosa;
Fala de quem a morte e a
vida pende,
Rara, suave; enfim,
Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e
comedido:
Estas as armas são com que
me rende
E me cativa Amor; mas não
que possa
Despojar-me da glória de
rendido.
CAMÕES, L. Obra completa. Rio
de janeiro: Nova Aguilar, 2008.

A pintura e o poema, embora
sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo
contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
a) apresentarem um retrato
realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos
usados no poema.
b) valorizarem o excesso de
enfeites na apresentação pessoa e na variação de atitudes da mulher,
evidenciadas pelos adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato
ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela
postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
d) desprezarem o conceito
medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado
pelos adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato
ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados
pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
Desafio
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Partimo-nos
assim do santo templo
Que
nas praias do mar está assentado,
Que
o nome tem da terra, para exemplo,
Donde
Deus foi em carne ao mundo dado.
Certifico-te,
ó Rei, que se contemplo
Como
fui destas praias apartado,
Cheio
dentro de dúvida e receio,
Que
a penas nos meus olhos ponho o freio.
(Camões, Os
Lusíadas, Canto 4º - 87.)
8. (Ufscar 2006) O trecho faz parte do poema épico "Os Lusíadas", escrito por
Luís Vaz de Camões e narra a partida de Vasco da Gama, para a viagem às Índias.
a)
Em que estilo de época ou época histórica se situa a obra de Camões?
b)
Para dizer que o nome do templo é Belém, Camões faz uso de uma perífrase:
"Que o nome tem da terra, para exemplo,/Donde Deus foi em carne ao mundo
dado". Em que outro trecho dessa estrofe Camões usa outra perífrase?
Gabarito:
Resposta da questão 1:
F – V – F – V – V.
F – V – F – V – V.
Primeira afirmação:
incorreta. O primeiro poema pertence ao Classicismo e o segundo, ao Modernismo.
Terceira
afirmação: incorreta. O segundo poema expressa a
finitude do sentimento amoroso.
Resposta da questão 2:
[E]
[E]
É correta a
opção [E], pois as obras do Classicismo reproduzem modelos ou padrões baseados
na busca de equilíbrio, simplicidade, contenção e universalidade, valorizando e
resgatando elementos artísticos da cultura greco-romana. Nas artes plásticas,
teatro e literatura, o Classicismo ocorreu no período do Renascimento Cultural,
séculos XIV ao XVI, e na música, na metade do século XVIII.
Resposta da questão 3:
[C]
[C]
É correta a
opção [A], pois, na frase “até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata”,
o presente do subjuntivo do verbo haver sugere
incerteza ou dúvida.
Resposta da questão 4:
[E]
[E]
Na frase da
opção [E], a palavra “semente” foi usada em sentido figurado, sugerindo algo
embrionário que pode originar resultados positivos.
Resposta da questão 5:
[B]
[B]
Nas opções
[A], [C], [D] e [E], existem termos que não pertencem à classe dos adjetivos,
pois em
[A] “muito” é
advérbio de intensidade;
[C] “tudo” é
pronome indefinido, e “bem”, substantivo incorporado à locução prepositiva “por
bem d(as)”;
[D] “gente” é
substantivo;
[E] “semente”
é substantivo.
Assim, é
correta apenas a opção [B].
Resposta da questão 6:
[D]
[D]
A primeira
estrofe apresenta uma generalização filosófica: a inconstância faz parte de
tudo que existe (“todo o mundo é composto de mudança”), devido a permanente
instabilidade do mundo exterior e interior do ser humano (“Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades”). Assim, não é específica do homem, nem do grau de
experiência que vai adquirindo ao longo da vida, como se afirma em [A] e [B].
Tampouco as opções [C] e [E] analisam corretamente o sentido dos versos de
Camões, pois a ideia de circularidade presente nas últimas estrofes confirma a
constância das transformações a ponto de que nem a própria mudança acontece
sempre da mesma forma e no mesmo ritmo. Assim, é correta apenas [D], já que a
segunda estrofe apresenta um eu lírico desiludido que vê o seu “doce canto”
convertido em triste “choro”.
Resposta da questão 7:
[C]
[C]
Os adjetivos
“leda”, “deleitosa”, “doce”, “graciosa”, “fermosa” e “rara” refletem a visão
idealizada da mulher, mas sem o exagero de emotividade característico do
Romantismo. Ao contrário deste, a estética clássica defende a contenção
emocional e privilegia o equilíbrio e a sobriedade, características sugeridas
nos termos “moderada” e “suave” referindo-se à imagem feminina, e na expressão
“alegre e comedido” com que se define o eu lírico. Assim, é correta a opção
[C].
cade a resposta da 8?
ResponderExcluir