quinta-feira, 20 de março de 2014

Revisão Parcial - Classicismo

1. (Ufpe 2013)  A poesia lírica é o espaço ideal para a temática do amor, desde a antiguidade clássica até a atualidade. Mudam-se os tempos, as ideologias, e o amor continua um sentimento indecifrável e paradoxal. Daí ser motivo dos dois poemas que seguem. Leia-os e analise as proposições que a eles se referem.

Sete anos de pastor Jacó servia

Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se não a tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!

(Camões)

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Vinícius de Moraes)
(     )  Nos dois poemas, pertencentes, respectivamente, ao Classicismo e ao Romantismo, o tema do amor é trabalhado numa forma fixa.  
(     )  São dois sonetos que mantêm relação de intertextualidade, pois o segundo retoma o primeiro em sua forma e em seu conteúdo.  
(     )  Nos dois poemas, a concepção de amor é diversa, pois o primeiro expressa a finitude desse sentimento, e o segundo, ao contrário, apresenta-o como eterno.  
(     )  No último verso de seu poema, Camões usa uma antítese para dar conta da idealização do amor. Vinicius de Moraes, nos dois últimos versos do segundo quarteto, recorre também a oposições, que expressam o desejo de viver o sentimento amoroso em todos os momentos.  
(     )  Enquanto o segundo soneto apresenta uma concepção do amor mais fiel à vivência dos afetos no século XX, o primeiro traz uma visão platônica idealizada do sentimento amoroso, própria do Classicismo do século XVI.  
  
2. (G1 - ifsp 2013)  São características das obras do Classicismo:
a) o individualismo, a subjetividade, a idealização, o sentimento exacerbado.   
b) o egocentrismo, a interação da natureza com o eu, as formas perfeitas.   
c) o contraste entre o grotesco e o sublime, a valorização da natureza, o escapismo.   
d) a observação da realidade, a valorização do eu, a perfeição da natureza.   
e) a retomada da mitologia pagã, a pureza das formas, a busca da perfeição estética.   

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
Esse texto do século XVI reflete um momento de expansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a apropriação de alguns gêneros discursivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa produção é a Carta de Caminha a D. Manuel. Considere a seguinte parte dessa carta:

Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.  


3. (G1 - ifsp 2013)  O verbo sob destaque no trecho – ...até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... – sinaliza a seguinte intenção do escrevente:
a) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma constatação.   
b) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma insatisfação.   
c) por meio do modo subjuntivo, evidenciar uma incerteza.   
d) por meio do modo indicativo, evidenciar uma convicção.   
e) por meio do modo indicativo, evidenciar uma hipótese.   
  
4. (G1 - ifsp 2013)  Assinale a alternativa em que as palavras grifadas estão empregadas em sentido conotativo.
a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...   
b) Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar...   
c) ...querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...   
d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente...   
e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.   
  
5. (G1 - ifsp 2013)  O trecho apresentado é preponderantemente descritivo. A classe de palavras que aparece associada a esse tipo textual é o adjetivo. São exemplos de palavras dessa classe, no texto, as seguintes:
a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...   
b) Águas são muitas e infindas.   
c) ...dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...   
d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente...   
e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.   
  
6. (Insper 2012)  Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía*.

Luís Vaz de Camões

*soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costumar, ser de costume

Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Camões.
a) O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte.   
b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas.   
c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se baseia no postulado da imutabilidade.   
d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as mudanças que se operam no mundo, porque constata que elas são geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada.   
e) As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que nada é permanente não passa de uma ilusão.   
  
7. (Enem 2012)  LXXVIII (Camões, 1525?-1580)

Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;

Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;

Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:

Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.

CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008.


A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.   
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoa e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do poema.   
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.   
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos usados no poema.   
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.   


Desafio


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Partimo-nos assim do santo templo
Que nas praias do mar está assentado,
Que o nome tem da terra, para exemplo,
Donde Deus foi em carne ao mundo dado.
Certifico-te, ó Rei, que se contemplo
Como fui destas praias apartado,
Cheio dentro de dúvida e receio,
Que a penas nos meus olhos ponho o freio.
(Camões, Os Lusíadas, Canto 4º - 87.)



8. (Ufscar 2006)  O trecho faz parte do poema épico "Os Lusíadas", escrito por Luís Vaz de Camões e narra a partida de Vasco da Gama, para a viagem às Índias.
a) Em que estilo de época ou época histórica se situa a obra de Camões?
b) Para dizer que o nome do templo é Belém, Camões faz uso de uma perífrase: "Que o nome tem da terra, para exemplo,/Donde Deus foi em carne ao mundo dado". Em que outro trecho dessa estrofe Camões usa outra perífrase?
 
Gabarito:  

Resposta da questão 1:
 F – V – F – V – V.

Primeira afirmação: incorreta. O primeiro poema pertence ao Classicismo e o segundo, ao Modernismo.
Terceira afirmação: incorreta. O segundo poema expressa a finitude do sentimento amoroso.  

Resposta da questão 2:
 [E]

É correta a opção [E], pois as obras do Classicismo reproduzem modelos ou padrões baseados na busca de equilíbrio, simplicidade, contenção e universalidade, valorizando e resgatando elementos artísticos da cultura greco-romana. Nas artes plásticas, teatro e literatura, o Classicismo ocorreu no período do Renascimento Cultural, séculos XIV ao XVI, e na música, na metade do século XVIII.  

Resposta da questão 3:
 [C]

É correta a opção [A], pois, na frase “até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata”, o presente do subjuntivo do verbo haver sugere incerteza ou dúvida.  

Resposta da questão 4:
 [E]

Na frase da opção [E], a palavra “semente” foi usada em sentido figurado, sugerindo algo embrionário que pode originar resultados positivos.  

Resposta da questão 5:
 [B]

Nas opções [A], [C], [D] e [E], existem termos que não pertencem à classe dos adjetivos, pois em

[A] “muito” é advérbio de intensidade;
[C] “tudo” é pronome indefinido, e “bem”, substantivo incorporado à locução prepositiva “por bem d(as)”;
[D] “gente” é substantivo;
[E] “semente” é substantivo.

Assim, é correta apenas a opção [B].  

Resposta da questão 6:
 [D]

A primeira estrofe apresenta uma generalização filosófica: a inconstância faz parte de tudo que existe (“todo o mundo é composto de mudança”), devido a permanente instabilidade do mundo exterior e interior do ser humano (“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”). Assim, não é específica do homem, nem do grau de experiência que vai adquirindo ao longo da vida, como se afirma em [A] e [B]. Tampouco as opções [C] e [E] analisam corretamente o sentido dos versos de Camões, pois a ideia de circularidade presente nas últimas estrofes confirma a constância das transformações a ponto de que nem a própria mudança acontece sempre da mesma forma e no mesmo ritmo. Assim, é correta apenas [D], já que a segunda estrofe apresenta um eu lírico desiludido que vê o seu “doce canto” convertido em triste “choro”.  

Resposta da questão 7:
 [C]

Os adjetivos “leda”, “deleitosa”, “doce”, “graciosa”, “fermosa” e “rara” refletem a visão idealizada da mulher, mas sem o exagero de emotividade característico do Romantismo. Ao contrário deste, a estética clássica defende a contenção emocional e privilegia o equilíbrio e a sobriedade, características sugeridas nos termos “moderada” e “suave” referindo-se à imagem feminina, e na expressão “alegre e comedido” com que se define o eu lírico. Assim, é correta a opção [C].  


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